Charmosa e sempre sorridente, Lily Allen gosta de chamar a atenção da ala masculina. Rebola, faz poses sensuais e levanta a blusa para mostrar a barriga. Mera provocação, porque é da plateia feminina que ela quer ouvir a voz para amplificar suas críticas e ironias a respeito do mundo dos homens. Todo seu rancor e desilusão com o sexo oposto foram bradados em forma de versos mais uma vez em São Paulo, nesta quarta-feira (17), no Via Funchal.
Se dos meninos da plateia Lily quer os olhares para si, das meninas ela quer ênfase em suas palavras. E o pedido de reforço vem sempre através de um "vamos lá, ladies", chamando com as mãos. Ela quer apoio para dizer o quanto o amante é ruim de cama ("Not Fair"), para desdenhar o amor do outro ("Never Gonna Happen") ou para reclamar do pai ausente ("He Wasn't There").
De voz suave e jeito gracioso, Lily Allen não é exatamente um exemplo de doçura. O que para ela não é problema algum, como evidencia no hit "Fuck You", entre um gole e outro num copo de plástico e tragadas em um cigarro eletrônico, que dribla a lei antifumo vigente na capital paulista. "Essa é para um cara que costumava ser presidente dos Estados Unidos, e ele se chama George W. Bush", contou ao público, antes de mandar para aquele lugar todas as pessoas com "pensamentos medievais".
Sua criativa homenagem ao Brasil veio na forma de três faixas em verde e amarelo purpurinadas ao lado do olho esquerdo e nas unhas pintadas: uma mão de verde e a outra de dourado. Mas foi dos festivais europeus, por onde passou recentemente, que ela trouxe seu repertório e seu visual (shortinho, salto alto e blusa regata, o mesmo modelito que vestiu no V Festival, no mês passado, na Inglaterra).
Os dois covers escolhidos para essa turnê também apareceram por aqui: "Oh My God", do Kaiser Chiefs (que ela já canta há alguns anos em seus shows), e o hit de Britney Spears "Womanizer". Desde sua turnê de estreia, a inglesa tem inserido versões em seus shows. Em 2007, quando veio ao Brasil pela primeira vez, entraram na apresentação "Everybody's Changing" (Keane), "Gangsters" (Specials) e "Heart of Glass" (Blondie). Dessa vez, se por um lado ela explora "Oh My God" com certa destreza para encaixar a sua "Everything's Just Wonderful" em um medley, por outro sua voz não segura "Womanizer", que chama Britney pelo nome.
Diferente do show anterior que fez em São Paulo, há dois anos, Lily suavizou o reggae e o ska que embalaram seu disco "Alright, Still" (2006) e inseriu camadas eletrônicas para sustentar seu "It's Not Me, It's You" (2009). O novo show tem pianos e sintetizadores que carregam "Everyone's At It", "I Could Say", "Never Gonna Happen", "22", "Who'd Have Known", "Chinese" ou "The Fear". Do primeiro álbum, que a alçou ao topo das paradas, Lily pinçou "LDN", "Smile", "Everything's Just Wonderful" e "Littlest Things", deixando de fora hits como "Alfie" e "Not Big".
Tudo é pop na música de Lily Allen. No dance de baladas radiofônicas ao western de "Not Fair" (com direito a chapéu de coubói) e ao jazz de "He Wasn't There", suas composições são para dançar e cantar junto. A banda --formada por guitarra, baixo, bateria e teclados-- também acompanhou o ritmo da inglesa, que tomou todo o palco do Via Funchal para rebolar, dançar e andar de um lado para o outro, enquanto soltava a voz em cima de bases pré-gravadas.
Lily Allen encheu de elogios o público de São Paulo. Ao abrir com a tríade "Everyone's at It", "I Could Say" e "Never Gonna Happen", disse que foram as melhores três primeiras músicas que já tocou. "Vocês são brilhantes, de verdade. Fizemos três festivais europeus neste verão e não chegam nem perto disso", falou.
Parecia conversa ensaiada para agradar os fãs locais durante o show. Mas depois que despediu-se do público, enrolada em uma toalha com bandeiras do Brasil desenhadas, Lily Allen correu para escrever em sua página no Twitter: "São Paulo, melhor show de todos os tempos".
Da capital paulista ela segue para o Rio de Janeiro, onde se apresenta nesta quinta-feira (17), no HSBC Arena.
Veja as músicas que Lily Allen tocou em São Paulo:
"Everyone's at It"
"I Could Say
"Never Gonna Happen"
"Oh My God" (cover de Kaiser Chiefs) / "Everything's Just Wonderful"
"22"
"Him"
"Who'd Have Known"
"LDN"
"Back to the Start"
"He Wasn't There"
"Littlest Things"
"Chinese"
"Smile"
"The Fear"
bis
"Womanizer" (cover de Britney Spears)
"Fuck You"
"Not Fair"
)
no palco durante apresentação de Poker Face e, para completar, usou roupas exóticas na plateia: rendas presas a uma espécie de coroa, que cobriam seu rosto.
